sexta-feira, 23 de março de 2012

Religião e Ciência, por Albert Einstein


A religião é vivida antes de tudo como angústia. Não é inventada, mas essencialmente estruturada pela casta sacerdotal , que institui o papel de intermediário entre os seres temíveis e o povo, fundando assim a sua hegemonia. Com freqüência o chefe, o monarca ou uma classe privilegiada, de acordo com os elementos de seu poder e para salvaguardar a soberania  temporal, se arrogam as funções sacerdotais. Ou então, entre a casta política dominante e a casta sacerdotal  se estabelece uma comunidade de interesses. 
Como poderá comunicar-se de homem a homem a religiosidade, uma vez que não pode chegar a nenhum conceito determinado de Deus, a nenhuma teologia? Para mim, o papel mais importante da arte e da ciência consiste em despertar e manter desperto o sentimento dela naqueles que lhe estão abertos. Estamos começando a conceber a relação entre a ciência e a religião de um modo totalmente diferente da concepção clássica. A interpretação histórica considera adversários irreconciliáveis ciência e religião, por uma razão fácil de ser percebida.


Aquele que está convencido de que a lei causal rege todo acontecimento não pode absolutamente encarar a idéia de um ser a intervir no processo cósmico, que lhe permita refletir sobre a hipótese da causalidade.


Não pode encontrar um lugar para um Deus-angústia, nem mesmo para uma religião social ou moral: de modo algum conceber um Deus que recompensa e castiga, já que o homem age segundo leis rigorosas internas e externas, que lhe proíbem rejeitar a responsabilidade sobre a hipótese-Deus, do mesmo modo que um objeto inanimado é irresponsável por seus movimentos.  Por este motivo a ciência foi acusada de prejudicar  a moral. Coisa absolutamente injustificável. E como o  comportamento moral do homem  se fundamenta eficazmente sobre a simpatia ou os compromissos sócias, de modo algum implica uma base religiosa. A condição dos homens seria lastimável se tivessem de ser domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma recompensa depois da morte.


É portanto compreensível que as igrejas tenham, em todos os tempos, combatido a Ciência e perseguido seus adeptos. Mas eu afirmo com todo vigor que a religião cósmica é o móvel mais poderoso e mais generoso da pesquisa cientifica. Somente aquele que pode avaliar os gigantescos esforços e, antes de tudo,  a paixão sem os quais as criações intelectuais cientificas inovadoras não existiriam, pode pesar a força do sentimento, único a criar um trabalho totalmente desligado da vida prática. Que confiança profunda na inteligibilidade da arquitetura do mundo e que vontade de compreender, nem que seja uma parcela minúscula da inteligência a se desvendar no mundo, devia animar Kepler e Newton para que tenham podido explicar os mecanismos da mecânica celeste, por um trabalho solitário de muitos anos.


Matheus,  http://www.acasadoaprendiz.com.br/albert_einstein.html 

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